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Diferenças Culturais

A escola, a educação e os hábitos – quase uma gafe cultural

A educação é  base de uma nação e, através dela, se forma muito das características de um povo. Até aí, todo mundo sabe. Mas viver numa outra cultura e fazer parte, de alguma forma, da escola torna a experiência muito interessante e passamos a ver os hábitos de uma outra maneira, mesmo sem concordar.

Aqui o normal é estudar em escola pública e, um dos fatores de valorização dos imóveis, é a escola que atende aquele bairro – e somente ele. Escola melhores, tem vizinhanças mais caras. Faz sentido, não?

Somente a partir dos cinco anos as crianças podem ir para escola pública. Antes disso, existem os “day-cares” (tipo berçario), escolas particulares e, claro, onde estão a esmagadora maioria das crianças de zero a cinco anos, sua própria casa. Pelo menos aqui pelo interior, boa parte das mulheres não trabalham e carregam suas crias para cima e para baixo entre lojas e supermercados.

Por diveras razões, as minhas vão para a escola. E escolhemos uma da linha Montessori. Para os mais conhecedores, vale ressaltar que, assim como todo país, a linha Montessori teve suas adaptações para o mercado americano. Afinal, no fim do dia, tudo é business por aqui. Mas mesmo assim, e não sei se acho que se aplica a todas as idades, a metodologia é fantástica e o desenvolvimento das crianças é evidente.

Independente da linha seguida pela escola, as crianças são muito independentes desde muito cedo. Sem o papel das “tias” e com um número reduzido de professores, as crianças são ensinadas a comer e se vestir sozinhas, cuidar do seu material e guardar tudo (brinquedos, lápis, papel, seja lá o que for) depois de usar. Às vezes, confesso, dá um pouco de aflição ao ver a luta para colocar o casaco, fechar o zíper da mochila. Mas a satisfação deles é tão grande em fazer tudo sozinhos que compensa se segurar um pouco. Para reforçar isso, empregada doméstica inexiste (exagero, mas é absolutamente raro), então a mãe não fica em casa brincando com as crianças. Tem que arrumar a casa, lavar a roupa, fazer comida. E assim, a criança, desde cedo já entra na dança. É muito comum que cada um da casa tenha sua lista de tarefas para manter o bom andamento do lar.

A rotina na escola é deixar o filho na porta – sem sair do carro – e ele vai caminhando até a classe, coloca sua mochila no cubby (espécie de armário onde eles deixam suas coisas), tiram o casaco, pegam a lancheira e a pasta de recado e entram na sala de aula. Claro que não deixo meus filhos na porta. Estaciono o carro e acompanho os dois até a sala. Eu e uns poucos pais, que não necessariamente tem os filhos na classe dos pequenos. E pasmem – eu fiquei surpresa – a participação masculino nessa rotina de deixar e pegar os filhos na escola é enorme. Primeiro que, se os filhos – principalmente menores de cinco anos – vão a escola é porque a mãe trabalha. Depois, aqui há uma flexibilidade enorme no horário de trabalho e as questões pessoais não são questionadas. Não existe “perua escola” e, em geral, não se mora perto de nenhum parente que possa socorrer.

A lancheira para mim é uma capítulo a parte porque representa uma das minhas grandes diferenças com o país: o hábito alimentar dos americanos. Detesto ter que mandar o almoço para eles. Imagino que eles são vistos como ETs obrigados a comer comida enquanto todos comem hot dog e pizza. Em vinte minutos e sem a ajuda de alguém para dar aquela focada e acelerada. Resultado: marmita cheia na volta da escola.

Mas o que mais me chamou muita atenção das escolas particulares são as campanhas para levantar fundos. Imagine você pagar a mensalidade e ainda ter (ou não) que participar de eventos e campanhas para arrecadar dinheiro para escola. Em alguns estados as escolas particulares recebem algum incentivo do governo mas apenas se forem “sem fins lucrativos”.

Já tínhamos participado do evento no ano passado. Comida e música para ser mais atrativo, mesas de jogos como um cassino e leilão. Além de alguns produtos e serviços que fazem parte do “silent auction”, há leilão de trabalhos desenvolvidos pelas classes. Me considero uma mãe até que bem pé no chão, então não acho que elogiar as peças seria um exagero. A professora de arte, que na maioria das vezes lidera junto às professoras de classe o desenvolvimento das peças, é excelente. Excêntrica. Divertida. Artista.

Fiquei feliz de ver o resultado das peças da classe dos meus dois pequenos. Da classe do Antonio – que vai de doze meses a três anos – foi feito um quadro com as mãos das crianças formando um bicho que começa com a mesma letra do nome de cada um. Da Helena – três a seis anos – um patchwork com desenho de cada uma das crianças inspirado na obra de Romero Britto. Isso porque, a classe dela estudou o Brasil esse ano, com direito a degustação de pão de queijo e suco de maracujá e explicação sobre a festa junina.

Apesar da escola reforçar diversos hábitos que eu não gosto, me impressiona como desde cedo eles se tornam engajados e ativos nos grupos os quais pertencem. Participam da limpeza da sala e da escola, plantam árvores e flores pelo menos uma vez por ano e, para o bem ou para o mal, têm que se virar sozinhas.

Realmente, um país é reflexo da sua cultura e do investimento feito na educação das crianças. Seja lá o que isso signifique.

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Sobre Hearts and Minds

Avessa a mudanças, tive a grata surpresa de descobrir que tudo pode mudar. Menos as coisas mais importantes da vida. Porque aquilo que não toca no coração, não fica na mente.

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