Depois de um ano e meio, voltamos ao Brasil. Durante a viagem fiquei fantasiando como seria. Muita expectativa e medo de não querer voltar. De me acabar num pote de requeijão, numa caixa de brigadeiro ou numa panela de feijão. Chorar sem parar ao rever os parentes e amigos que ficaram e muitos deles não pude ver pessoalmente durante esse tempo.
E aconteceu uma coisa muito estranha. Quando cheguei no aeroporto, a sensação era de que nada tinha acontecido. Era se como eu nunca tivesse saído daqui. A cidade cinza, com garoa, sujeira pela rua era exatamente a mesma. Até passar pelos primeiros buracos. Não me lembrava, ou lembrava, mas tinha me desacostumado com a irregularidade do asfalto. Ladeiras e buracos não faziam mais parte do meu dia a dia. Nem os motoristas agressivos e apressados, correndo atrás do tempo que não voltará mais.
Mas, desarmado de sua máquina, este mesmo motorista agressivo e impaciente é um ser extremamente solicito e simpático como há muito tempo não via nas ruas. De tudo que essa jornada me trouxe, perder o calor das relações humanas é uma das quais ainda tenho dificuldade de me adaptar. Mesmo com todos os problemas do país ou das características negativas do povo, a espontaneidade e alegria do brasileiro.
Tudo pode, tudo dá – para o bem e para o mal. Um bom dia, um sorriso. Em qualquer hora e qualquer lugar. E claro, a capacidade de transformar desgraça em graça…
Na farmácia, só eu desci. Quando voltei para o carro, um bate papo com o carro vizinho rolava animado.
“Você conhece?”
“Não.”
“O povo brasileiro tá mais simpático ou eu que tinha esquecido?”
Acho que eu tinha esquecido. E essa simpatia não tem fim.
“Moço, você sabe onde tem um mercadinho por aqui?” – me acostumando com a nova vizinhança
“Tá vendo aquele farol? Segue que logo depois tem um. Ali, onde a mulher picou o japonês…”
Feliz de estar de volta – ainda que seja só um pouquinho.
Gostei do que li, queria saber o resto das impressões. Pra mim é exatamente mais do mesmo nos últimos 10 anos…a mesma sensação, e sempre o gostinho do quero mais…..
Tem coisas que realmente estão impregnadas em nós e é difícil esquecer. A comida, o jeitinho (do bem!), festa junina, o calor humano… Mas tudo isso tem um olhar diferente agora. As coisas ruins, olho com muita pena. Com vontade de poder ajudar a fazer melhor. E as boas… as boas, ficam ótimas! Mas vou confessar, é claro que em algumas coisas já peguei a lógica do Tio Sam e é difícil aceitar como são aqui… O tempo, né, Paulinha? Só o tempo…