Depois de enrolar alguns meses, não vi saída a não ser aceitar o convite. Poderia ser num fim de semana com a família toda ou durante a semana depois da aula.
O que você escolheria? Eu sem pestanejar pensei: “Vou marcar no domingo assim carrego o Vinícius e não pago esse mico sozinha.” Super lógico!
Consultei as bases (Santa base!!!!!): muito simples, ao ir a família toda, significa estreitar o relacionamento. Não teria problema se fosse no Brasil, onde não haveria obrigação e se não desse certo, tudo bem. Achei melhor seguir sozinha.
Em um dia qualquer após a aula das crianças, fomos para a casa da amiguinha da Lele. Se eu achava (e os que já me visitaram acham) que eu moro no meio de uma floresta, nada se compara com ela. Uns vinte minutos mais para dentro da mata, no meio de várias fazendas, chegamos no portão da casa.
Nunca escrevi, mas a todo momento parece que estamos vivendo em um filme. E claro, não era diferente. Escolha o filme de suspense que quiser. Para mim, eu estava entrando no cenário do filme “Os Outros” (The Others).
Do portão até a entrada da casa, era uma caminho de terra de aproximadamente 600 metros, que dava numa espécie rotatória. Do lado direito, dois ou três carros parados em frente de um casebre. Uma mistura de depósito com edícula. A esquerda, a casa. Com aproximadamente 300 anos (sem brincadeira), ela tinha pertencido a bisavó da menina.
Estacionei e quando tirei as crianças do carro, apareceram a menina e o irmão seguidos por três cachorros, para o pânico dos meus. Entramos pela porta lateral, na cozinha. Toda a estrutura e parte da decoração era original. Um forno a lenha mantinha o ambiente aquecido, já que não havia aquecimento central. Aquele cheiro de lenha dominava tudo. Uma bancada no meio da cozinha, guardava as panelas amontoadas na prateleira debaixo e algumas outras panelas penduradas em acima dela. Três tapetes para os cachorros cercavam o fogão a lenha porque fazia muito frio.
As crianças logo correram para dentro em direção ao quarto onde tinham os brinquedos. Fomos atrás. Depois da cozinha, uma ante sala como um comedor, e, logo, a sala de jantar. Esta, com uma mesa de dez lugares, duas ou três cristaleiras com muita porcelana e diversos quadros com fotos bem antigas, dessas que olham você por onde você anda.
De repente, a Helena dá um grito e vem correndo chorando assustada. Não falou nada, só me abraçou até se acalmar (ou me acalmar, já nem sei!).
No andar de cima, o cenário já era mais contemporâneo. Muita bagunça, coisas espalhadas e uma sala cheia de brinquedos velhos e sujos e outros novos e quebrados jogados por toda parte.
A casa era enorme e os detalhes antigos me impressionaram muito (no bom sentido, nessa altura já tinha passado a primeira impressão). No papo de amenidades, a mãe foi me contando da casa, dos detalhes, de como ela pertencia a família e porque era tão importante para eles manterem a casa. Aos poucos estavam restaurando e arrumando o lugar.
Quase hora de ir, snack servido: brownie! Servido na mão sem grandes formalidades (Hands were created before forks, diriam os americanos). Era hora de ir, diria a cartilha.
No caminho de volta, totalmente defumados pelo fogão a lenha, tive a certeza que essa foi uma das experiências mais estranhas até aquele momento. Afinal, sei que sempre pode vir algo melhor – ou pior, depende do ponto de vista.
Palácio de Los Hornillos – Daniel Muñoz
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